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Pretendo caro leitor compartilhar aqui alguns passatempos e reflexões que se apoderam nessa peregrinação de nossa temporalidade. Seja sobre Deus; seja sobre o homem; seja sobre a poesia e as artes; ou mesmo sobre meras bobagens. Desejando que não sejam meras palavras (flatus vocis), mas que tais palavras de certa forma adentrem além da superfície dos seus olhos e quem sabe chegar a sua alma.

A vós poetas e artistas, pensadores e leigos, sintam-se a vontade esse espaço é vosso também.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Brevíssimo comentário sobre: O primado da verdade na vida por Joseph Ratzinger

“O primado da verdade na vida.

Ao longo do meu caminho espiritual, senti muito intensamente o problema de saber se, no fundo, não é presunção dizer que podemos conhecer a verdade, em virtude de todas as nossas limitações. Também me interroguei até que ponto não seria talvez melhor pôr essa categoria em segundo plano. Ao aprofundar essa questão, pude observar, e também compreender, que a renúncia à verdade não resolve nada: pelo contrário, conduz à ditadura da arbitrariedade. Tudo o que resta só pode então ser decidido por nós e é substituível. O homem perde a dignidade quando não é capaz de conhecer a verdade, quando tudo não passa de produto de uma decisão individual ou coletiva.
Assim, vi como é importante que não se perca o conceito de verdade, mas permaneça como categoria central, não obstante as ameaças e os riscos que sem dúvida envolve. Como exigência que nos é feita, não nos dá direitos, mas, pelo contrário, requer a nossa humildade e a nossa obediência, como também nos pode pôr no caminho daquilo que é comum a todos os homens. A partir de um longo confronto com a situação espiritual em que nos encontramos, este primado da verdade foi lentamente tornando-se visível para mim; como disse, não pode ser simplesmente entendido de forma abstracta, mas precisa estar envolvido em sabedoria.” (RATZINGER, Joseph – O primado da verdade na vida – O Sal da Terra.)

Romanos 1.25 “Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira...”

O conceito de verdade é extremamente necessário de ser tratado diante dos paradigmas que nossa sociedade vive. Talvez mais do que nunca, a discussão sobre a Verdade seja a mais densa e profunda necessidade de nossos dias. Você já parou para pensar sobre o que seria de você caso não existissem “verdades” que lhe direcionem?

Houve um filósofo escocês, David Hume, que trouxe às querelas filosóficas a questão da verdade, mas não que quisésse falar sobre a verdade em si, porém, quis questionar a veracidade das percepções. Basicamente ele dizia que tudo que o hábito era o meio em que sustentávamos os nossos dias, como uma espécie de fé, por exemplo, acreditar na certeza do nascer do sol, etc. Basicamente o quero dizer é, caso essas “certezas” fossem postas a prova, o que restaria?

Lucas 1.4 “para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído.”

A secularização nos ensina que a verdade é relativa e que não devemos tentar falar sobre verdades absolutas. Que engano! Como cristãos, temos a necessidade, o dever de embaixadores do reino dos céus de proclamar a verdade anunciada desde antiguidade, a verdade que era cantada pelos judeus como convocação para adoração “Shamah Ysrael Adonai Eloheinu, Adonai ehad” (Ouve ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é único). Perceba! Não é possível acreditar em duas verdades sobre o mesmo assunto, é ilógico, ou seja, crer nas verdades das sagradas escrituras ou crer nas verdades do relativismo secular.

Busquemos pois Filipenses 4.8 “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.”

“Verdade e bondade

É preciso interpretar todo o contexto. Nessa frase, a bondade é entendida no sentido de uma falsa bondade, do tipo "não pretendo aborrecer-me". É uma atitude muito comum, que se verifica também, e sobretudo, no campo da política: não se quer ser impopular. Em vez de ter aborrecimentos e de os criar, prefere-se contemporizar, mesmo com o que é errado, com o que não é puro, nem verdadeiro, nem bom. Está-se disposto a comprar bem-estar, sucesso, reconhecimento público e aceitação por parte da opinião dominante, à custa da renúncia à verdade. Não quis atacar a bondade em geral. A verdade só pode ter sucesso e vencer com a bondade. Referia-me a uma caricatura da bondade que é bastante comum: que se negligencie a consciência com o pretexto da bondade, que se coloque acima da verdade a aceitação e a preocupação de evitar problemas, o comodismo, o ser bem-visto.” (RATZINGER, Joseph – O primado da verdade na vida – O Sal da Terra.)

A consciência da verdade é uma necessidade urgente e constante. No filme “kingdom of heaven” o pai diz ao filho:

“Não tenha medo ao encarar seus inimigos
Seja valente e certo para que Deus te queira
Diga sempre a verdade nem que lhe custe a vida
Proteja o indefeso e não faça nenhum mal
Esse é o teu juramento
E isso é para que não se esqueça”.

Estes conselhos e disposições são tão fortes e desafiadores que de alguma forma parece demasiada romântica para os nossos dias. Mas os dias são maus, como nunca antes os dias são maus, pois se procuras a verdade, lhe apresentam diversas, na verdade lhe propõem não creditar verdade a alguma coisa específica!

Ser cristão é ser verdadeiro, justo e buscar o que é do alto. Pretendendo encerrar com as palavras do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard:

"é uma espécie de loucura divina por amor ser incapaz de ver o mal que ocorre sob seus olhos. Em verdade, nesses dias tão sagazes, que entendem tanto da maldade, seria urgente fazer alguma coisa para aprender a honrar esse tipo de loucura; pois infelizmente hoje em dia se faz o suficiente para fazer passar por louco um tal amoroso que, entendendo tanto do bem, nada quer saber do mal." ~ Kierkegaard (As obras do amor)

Por: Danilo Reis

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