“O primado da verdade na vida.
Ao
longo do meu caminho espiritual, senti muito intensamente o problema de saber
se, no fundo, não é presunção dizer que podemos conhecer a verdade, em virtude
de todas as nossas limitações. Também me interroguei até que ponto não seria
talvez melhor pôr essa categoria em segundo plano. Ao aprofundar essa questão,
pude observar, e também compreender, que a renúncia à verdade não resolve nada:
pelo contrário, conduz à ditadura da arbitrariedade. Tudo o que resta só pode
então ser decidido por nós e é substituível. O homem perde a dignidade quando
não é capaz de conhecer a verdade, quando tudo não passa de produto de uma
decisão individual ou coletiva.
Assim,
vi como é importante que não se perca o conceito de verdade, mas permaneça como
categoria central, não obstante as ameaças e os riscos que sem dúvida envolve.
Como exigência que nos é feita, não nos dá direitos, mas, pelo contrário,
requer a nossa humildade e a nossa obediência, como também nos pode pôr no
caminho daquilo que é comum a todos os homens. A partir de um longo confronto
com a situação espiritual em que nos encontramos, este primado da verdade foi
lentamente tornando-se visível para mim; como disse, não pode ser simplesmente
entendido de forma abstracta, mas precisa estar envolvido em sabedoria.” (RATZINGER,
Joseph – O primado da verdade na vida – O Sal da Terra.)
Romanos 1.25 “Pois eles mudaram a
verdade de Deus em mentira...”
O conceito de verdade é extremamente
necessário de ser tratado diante dos paradigmas que nossa sociedade vive.
Talvez mais do que nunca, a discussão sobre a Verdade seja a mais densa e profunda
necessidade de nossos dias. Você já parou para pensar sobre o que seria de você
caso não existissem “verdades” que lhe direcionem?
Houve um filósofo escocês, David Hume, que
trouxe às querelas filosóficas a questão da verdade, mas não que quisésse falar
sobre a verdade em si, porém, quis questionar a veracidade das percepções.
Basicamente ele dizia que tudo que o hábito era o meio em que sustentávamos os
nossos dias, como uma espécie de fé, por exemplo, acreditar na certeza do
nascer do sol, etc. Basicamente o quero dizer é, caso essas “certezas” fossem
postas a prova, o que restaria?
Lucas 1.4 “para que tenhas plena certeza
das verdades em que foste instruído.”
A secularização nos ensina que a verdade é
relativa e que não devemos tentar falar sobre verdades absolutas. Que engano!
Como cristãos, temos a necessidade, o dever de embaixadores do reino dos céus
de proclamar a verdade anunciada desde antiguidade, a verdade que era cantada
pelos judeus como convocação para adoração “Shamah Ysrael Adonai Eloheinu, Adonai
ehad” (Ouve ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é único). Perceba! Não é
possível acreditar em duas verdades sobre o mesmo assunto, é ilógico, ou seja,
crer nas verdades das sagradas escrituras ou crer nas verdades do relativismo secular.
Busquemos pois Filipenses 4.8 “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável,
tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja
isso o que ocupe o vosso pensamento.”
“Verdade e bondade
É
preciso interpretar todo o contexto. Nessa frase, a bondade é entendida no
sentido de uma falsa bondade, do tipo "não pretendo aborrecer-me". É
uma atitude muito comum, que se verifica também, e sobretudo, no campo da
política: não se quer ser impopular. Em vez de ter aborrecimentos e de os
criar, prefere-se contemporizar, mesmo com o que é errado, com o que não é
puro, nem verdadeiro, nem bom. Está-se disposto a comprar bem-estar, sucesso,
reconhecimento público e aceitação por parte da opinião dominante, à custa da
renúncia à verdade. Não quis atacar a bondade em geral. A verdade só pode ter
sucesso e vencer com a bondade. Referia-me a uma caricatura da bondade que é bastante
comum: que se negligencie a consciência com o pretexto da bondade, que se coloque
acima da verdade a aceitação e a preocupação de evitar problemas, o comodismo,
o ser bem-visto.” (RATZINGER, Joseph – O primado da verdade na vida – O Sal da
Terra.)
A consciência da verdade é uma necessidade urgente e constante. No filme
“kingdom of heaven” o pai diz ao filho:
“Não tenha medo
ao encarar seus inimigos
Seja valente e certo para que Deus te queira
Diga sempre a verdade nem que lhe custe a vida
Proteja o indefeso e não faça nenhum mal
Esse é o teu juramento
E isso é para que não se esqueça”.
Seja valente e certo para que Deus te queira
Diga sempre a verdade nem que lhe custe a vida
Proteja o indefeso e não faça nenhum mal
Esse é o teu juramento
E isso é para que não se esqueça”.
Estes conselhos e disposições são tão fortes e desafiadores que de
alguma forma parece demasiada romântica para os nossos dias. Mas os dias são
maus, como nunca antes os dias são maus, pois se procuras a verdade, lhe
apresentam diversas, na verdade lhe propõem não creditar verdade a alguma coisa
específica!
Ser cristão é ser verdadeiro, justo e buscar o que é do alto. Pretendendo
encerrar com as palavras do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard:
"é uma espécie de loucura divina por amor ser incapaz de ver o mal
que ocorre sob seus olhos. Em verdade, nesses dias tão sagazes, que entendem
tanto da maldade, seria urgente fazer alguma coisa para aprender a honrar esse
tipo de loucura; pois infelizmente hoje em dia se faz o suficiente para fazer
passar por louco um tal amoroso que, entendendo tanto do bem, nada quer saber
do mal." ~ Kierkegaard (As obras do amor)
Por: Danilo Reis
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